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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Daqui há muitos anos....




O Sol quente batia no meu rosto ferozmente, vaporizando minhas lágrimas que caiam pela cena. A pessoa que eu mais confiava estava sendo enterrada em um caixão, pessoas em volta de mim sussurravam coisas horríveis sobre a falecida, o padre falava calmamente, um parente sorria para mim com gentileza e eu correspondia em meio às lágrimas.


— É incrível como as pessoas são falsas e má educadas! — sussurrou minha amiga.
Ela usava roupas alegres, ao contrário da minha veste negra; uma blusa colada e uma saia rosa, saltos altos, seus braços possuíam tatuagens, seu cabelo rebelde e negro era atraente. Ela começou a soltar fumaça da boca, após retirar o cigarro.
— Você sabe que eu tenho asma!
— É só ficar longe de mim!
Nós duas ouvimos um “vadia” em um grupo de senhoras fuxiqueiras. Jane riu como nunca, sentou no chão 

— sem ligar se sujaria sua roupa vulgar — pegou o isqueiro e mais outro cigarro, olhando para o caixão já dentro do buraco escavado. Assim soltando mais nicotina no ar.

— A única que merece velar esse corpo é você! — ela me olhou. Aqueles olhos cinzas melancólicos como sempre havia cido.

— E também Jack — ouvi ela bufar.

— Não olhe para ele, pois meu irmão te analisa! — ela informou, assim olhei o Jack que continuava a olhar para mim.

Ele era bonito. Cabelos louros e encaracolados, olhos cinzas e vivos, além de misteriosos. O rapaz era muito diferente da Jane, sua irmã mais nova; ele era inteligente e reservado, já minha amiga era divertida. Claro, que quem era sempre privilegiado na família e escola era Jack, já a ruiva era conhecida como vadia por suas roupas sensuais e tatuagens tribais. Eu a conhecia muito bem, Jane mesmo sendo assim fisicamente, por dentro tinha uma fraqueza e bondade que somente eu tinha visto.

— Ren está bem? — perguntou Jane sobre o cachorrinho abandonado que ela cuidará. Eu confirmei mexendo a cabeça. — Ele é o único que me entende. Machucado pela única pessoa que amava e confiava, abusado por esta e morto por dentro. Coisas que não podem ser apagadas nem pela alma.

Ela olhou para mim e sorriu.

— Que bom que nunca me abandonou! — ela se levantou e me abraçou. — Te amo! Espero te ver daqui há muitos anos!

Assim sorriu abertamente, olhou para Jack e saiu. O louro veio até mim e me analisava como se eu fosse interessante, não podia negar corei com o olhar.

— Mesmo com esse calor, sinto um pouco de frio e você?

— Posso dizer o mesmo! — eu corei, quando ele colocava uma mexa do meu cabelo para trás. — Sinto muito pela perda. Acharam o estuprador?

Ele mudou a expressão para tristeza. Apertando minha mão direita.

— Jane foi a pessoa que mais amei, Infelizmente não aguento vê-la ir embora, ficarei feliz se me acompanhar, não quero ver o término disso. — ele olhou o caixão quase coberto por terra.

Eu amava aquele homem e Jane sabia, mesmo ela dizendo que não podia. Não aguentava vê-lo em prantos pela irmã que ele amou e cuidou sem os pais. Eu apertei sua mão e juntos saímos do cemitério, porém senti o vento dizer:

— Por favor, somente daqui há muitos anos!

Um comentário:

  1. Comentei lá e comentarei aqui também.

    Você escreve muito bem, em termos de narrativa e de descrição. Gostei do processo lento de caracterização da cena: você não entrega tudo de uma vez.

    Tenho uma pequena crítica, no entanto, em relação à história em si: você desenvolveu muito as personagens para um conto tão curto. É como se você pretendesse fazer uma história mais longa e tivesse cansado e posto um fim do nada. Como se o filme acabasse depois dos vinte primeiros minutos, sabe? Você conhece os personagens, conhece a situação, entende o problema e acaba. Não tem desenvolvimento.

    De qualquer forma, você escreve muito bem, descreve lindamente e tem muito, muito, muito potencial!

    Lerei o outro!

    Beijos,

    Mel Geve

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